Nos dias 22 e 23 de
outubro de 2011 aconteceram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Esse ano foi a vez da minha irmã mais nova participar do que podemos chamar de
maratona escolar: 180 perguntas e mais uma redação. No meu tempo, a prova
durava somente um dia, tinha 63 questões e uma redação. Se já saíamos esgotados
na era das 63 perguntas, imagina agora que o tormento dura dois dias.
Meu pequeno anjo de 18
anos saiu cedo para o seu primeiro ENEM. Eu já sabia que ela ia retornar com
uma série de observações sobre a prova. Na realidade, as observações trazidas
foram sobre os bastidores.
...
“Cheguei lá, enfrentei
uma fila para entrar na sala. Sentei. Do meu lado, uma mulher estranha se
acomoda”, conta minha irmã.
“Vocês podem colocar o
lanche, se tiver, em cima da mesa. Cuidado para não derramar líquido na
prova...”, orientou o fiscal.
Minha irmã observadora
como é, relata:
“Cara, a mulher que
estava do meu lado, tirou da sacola: Um Red
Bull, uma coca-cola, uma garrafa de água mineral, uma bolacha recheada,
dois pacotinhos de Trindents, duas
barras de cereal, duas barras de chocolate, três balinhas, um pirulito e um
saquinho de jujuba. Logo pensei: Essa daí pretende ficar até o fim!”
Envergonhada, minha
irmã retirou apenas uma bolacha que nem ousou abrir.
O fiscal distribuiu
sacolas padronizadas para que os alunos colocassem os lápis, borrachas e outros
objetos. Inutilmente, minha irmã tentou enfiar a bolsa inteira na pequena
sacola que quase rasgou. Teve que encarar o olhar reprovador do fiscal.
“Hum, tenho que trazer
essa mesma sacolinha amanhã?”, perguntou.
No meu tempo não havia teste
de grafia. Desta vez, há. O MEC (Ministério da Educação) adotou um meio para
comprovar a identidade dos usuários. O aluno devia repetir no cartão de
respostas em letra cursiva, uma determinada frase. A frase da minha irmã, cujo
caderno era amarelo, era: “Há um frio e um vácuo no ar”. Ela perdeu um tempão
pensando: Será que todas as outras provas têm uma frase boba feito essa? E essa
mistura de maiúscula e minúscula. Vou levar a tarde toda só pra reproduzir isso
sem erros.
Metade da prova e vem
aquela vontade enorme de ir ao banheiro. E agora? O jeito foi aceitar a
companhia do fiscal até lá.
“Foi constrangedor.
Parecia que todo mundo sabia que eu ia fazer xixi! Pior, pensei que ele ia entrar no
banheiro comigo...”, conta meu anjo.
Ao voltar para a sala,
o cansaço já batia. Tinha lido 50 perguntas, agora era partir para o “mamãe
mandou eu escolher esse daqui”... Depois disso, ainda ia encarar a pintura das
bolinhas:
“Quase fiquei cega! Sai
vendo um monte de pintinhas...”, diz
Eis que surge mais um
problema: uma coceira na perna. Estava de vestido e na primeira tentativa de
coçar, o fiscal olhou desconfiado. Métodos utilizados para afastar a coceira:
tentar o cotovelo; a caneta ou ainda encostar uma perna na outra. Nada dava
certo. E nem o fiscal desviava o olho.
“Agora lascou! Ele vai
achar que eu quero colar. Mas também só um idiota para querer colar numa prova
dessas. É possível colocar conhecimento adquirido nesses anos todos de estudo
nas pernas?! Ou está na cabeça ou vai no ‘Joãozinho é um bom aviador/ quando
falta gasolina, ele mija no tambor/ Ana bela, Ana bela, quem saiu foi ela...”
Para acompanhar o
problema da coceira, o silêncio da sala era interrompido pelos barulhos de
gente mascando chiclete, páginas virando, pacote de bolachas ou chocolates
sendo abertos... a concentração era o tempo todo interrompida.
Estava calma, até que
começou a sair os primeiros alunos da sala. “Agora é pintar bolinhas na
velocidade da luz, nem vai dar tempo de cantar musiquinha.”
Deixou a escola com a
seguinte conclusão:
“Eu sou a melhor da
melhor do mundo em pintar bolinhas do ENEM mais rápido.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário