domingo, 23 de outubro de 2011

Minha irmã e o ENEM


Nos dias 22 e 23 de outubro de 2011 aconteceram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Esse ano foi a vez da minha irmã mais nova participar do que podemos chamar de maratona escolar: 180 perguntas e mais uma redação. No meu tempo, a prova durava somente um dia, tinha 63 questões e uma redação. Se já saíamos esgotados na era das 63 perguntas, imagina agora que o tormento dura dois dias.
Meu pequeno anjo de 18 anos saiu cedo para o seu primeiro ENEM. Eu já sabia que ela ia retornar com uma série de observações sobre a prova. Na realidade, as observações trazidas foram sobre os bastidores.
...
“Cheguei lá, enfrentei uma fila para entrar na sala. Sentei. Do meu lado, uma mulher estranha se acomoda”, conta minha irmã.
“Vocês podem colocar o lanche, se tiver, em cima da mesa. Cuidado para não derramar líquido na prova...”, orientou o fiscal.
Minha irmã observadora como é, relata:
“Cara, a mulher que estava do meu lado, tirou da sacola: Um Red Bull, uma coca-cola, uma garrafa de água mineral, uma bolacha recheada, dois pacotinhos de Trindents, duas barras de cereal, duas barras de chocolate, três balinhas, um pirulito e um saquinho de jujuba. Logo pensei: Essa daí pretende ficar até o fim!”
Envergonhada, minha irmã retirou apenas uma bolacha que nem ousou abrir.
O fiscal distribuiu sacolas padronizadas para que os alunos colocassem os lápis, borrachas e outros objetos. Inutilmente, minha irmã tentou enfiar a bolsa inteira na pequena sacola que quase rasgou. Teve que encarar o olhar reprovador do fiscal.
“Hum, tenho que trazer essa mesma sacolinha amanhã?”, perguntou.
No meu tempo não havia teste de grafia. Desta vez, há. O MEC (Ministério da Educação) adotou um meio para comprovar a identidade dos usuários. O aluno devia repetir no cartão de respostas em letra cursiva, uma determinada frase. A frase da minha irmã, cujo caderno era amarelo, era: “Há um frio e um vácuo no ar”. Ela perdeu um tempão pensando: Será que todas as outras provas têm uma frase boba feito essa? E essa mistura de maiúscula e minúscula. Vou levar a tarde toda só pra reproduzir isso sem erros.
Metade da prova e vem aquela vontade enorme de ir ao banheiro. E agora? O jeito foi aceitar a companhia do fiscal até lá.
“Foi constrangedor. Parecia que todo mundo sabia que eu ia fazer xixi! Pior, pensei que ele ia entrar no banheiro comigo...”, conta meu anjo.
Ao voltar para a sala, o cansaço já batia. Tinha lido 50 perguntas, agora era partir para o “mamãe mandou eu escolher esse daqui”... Depois disso, ainda ia encarar a pintura das bolinhas:
“Quase fiquei cega! Sai vendo um monte de pintinhas...”, diz
Eis que surge mais um problema: uma coceira na perna. Estava de vestido e na primeira tentativa de coçar, o fiscal olhou desconfiado. Métodos utilizados para afastar a coceira: tentar o cotovelo; a caneta ou ainda encostar uma perna na outra. Nada dava certo. E nem o fiscal desviava o olho.
“Agora lascou! Ele vai achar que eu quero colar. Mas também só um idiota para querer colar numa prova dessas. É possível colocar conhecimento adquirido nesses anos todos de estudo nas pernas?! Ou está na cabeça ou vai no ‘Joãozinho é um bom aviador/ quando falta gasolina, ele mija no tambor/ Ana bela, Ana bela, quem saiu foi ela...”
Para acompanhar o problema da coceira, o silêncio da sala era interrompido pelos barulhos de gente mascando chiclete, páginas virando, pacote de bolachas ou chocolates sendo abertos... a concentração era o tempo todo interrompida.
Estava calma, até que começou a sair os primeiros alunos da sala. “Agora é pintar bolinhas na velocidade da luz, nem vai dar tempo de cantar musiquinha.”
Deixou a escola com a seguinte conclusão:
“Eu sou a melhor da melhor do mundo em pintar bolinhas do ENEM mais rápido.”


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