sábado, 6 de novembro de 2010

E a feira de novo

Devo ter sido um legume ou verdura em vidas passadas. Sempre acabo guardando uma história carinhosa vivida em feiras, dessa vez na divisa Santos – São Vicente

“Você deve ter nascido debaixo de uma barraca de feira, dizia meu pai.” Assim, dona Rose resumia, o amor pela profissão. Vicentina e feirante há quatro anos, Rosângela Tavares, conhecida por todos como Rose, levanta às quatro da manhã, todos os dias para montar a sua barraca de queijos e doces nas feiras livres da cidade de São Vicente.
Com um largo sorriso, ela me conta como começou na profissão. “Eu trabalhava nas lotações aqui da cidade e meu filho tinha a barraca na feira. Ele tinha dezoito anos quando começou. Dez anos depois resolveu parar. Meu coração de feirante bateu mais forte e resolvi assumir o posto”.
E eu não contei ainda o que eu estava fazendo na feira e como encontrei dona Rose. Pois bem. Era plantão de sábado, na rádio. Fui à feira procurar por algo interessante para contar para os ouvintes. Chuvinha fina molhava o papel onde eu anotava detalhes do que ia falar. Pensei em entrevistar o moço que vendia grãos de todos os tipos possíveis – lembrei-me até do dia em que me perdi na feira e do meu medo enorme de ir morar para sempre na casa dos temperos – enquanto eu pensava em como abordaria o moço, dona Rose se aproximou de cantinho. Todo mundo da minha barraca está curioso pra saber o que você tanto anota ai...” Ué, pensei que eu é que fosse a jornalista e que carregava a curiosidade inerente à profissão!... Ahhh! Todo mundo que ela falava, na verdade, eram três pessoas que trabalhavam com ela...
Expliquei o que eu estava fazendo e ela logo se prontificou a me dar entrevista. Minutos depois, estávamos NO AR!
Fiquei feliz. Gosto de falar com pessoas simples e alegres. Gente que levanta cedo todos os dias, com o céu claro ou com chuva fina, trabalha com afinco e nunca tira do rosto, o sorriso acolhedor. Ser brasileiro é ser assim: batalhador e humilde.
Deixei a barraca em meio à chuva – agora intensa – e com um gostinho de rapadura na boca, mesmo sem experimentar nenhum pedaço.