domingo, 26 de dezembro de 2010

O jovem velhinho de Logradouro

A pequena Valdirene corre pela casa, sorriso largo estampado no rosto. “Papai Noel chegou! Papai Noel chegou! Todos seguem até o portão, atentos à chegada do bom velhinho.
Com o seu saco, gorrinho e camisa vermelha, Papai Noel não chega de trenó e nem usa barba branca. Parece que o velhinho encontrou a fonte da juventude e andou fazendo regime enquanto lia as cartinhas enviadas ao Polo Norte...
Nada disso! O rosto de Papai Noel é conhecido pelos moradores de Logradouro (Distrito de Cacimba de Dentro – PB). Pouco eu sei do jovem velhinho que ao longo de seis anos transforma as tardes de Natal das crianças de Logradouro.
Papai Noel tem pressa em atender os pequenos e a aspirante a repórter perdeu a oportunidade de uma entrevista exclusiva com o velhinho.
No olhar, ele carrega a satisfação de trazer alegria e esperança. Seu sorriso se confunde com o sorriso dos pequenos, extasiados com o mundo de doces e salgadinhos. O que será que motiva o jovem velhinho?
Encontrei Papai Noel, véspera de Natal, visitando a fábrica de presentes. Escolhia com carinho o que iria levar e me contava onde deixaria os presentes. Fiquei aliviada! Quando era criança me preocupava com o fato de não ter chaminé na minha casa. “Como Papai Noel iria trazer meus presentes? Será que ele conseguiria passar com toda aquela barriga pela minha janelinha?” Mas, Papai Noel faz questão de olhar nos rostinhos dos pequenos e entregar-lhes os presentes pessoalmente.
E vocês nem imaginam onde o velhinho compra a sua roupa vermelha! Entretanto, parece que esse ano, a encomenda não chegou à tempo. O velhinho teve que usar outro disfarce: a imaginação.
Ao chegar ao portão da casa da minha vó, o jovem velhinho não usava barba branca e nem a sua tradicional roupa. Não vi suas renas nem o seu trenó, mas a pequena Valdirene tinha certeza que se tratava de Papai Noel. “Chega mamãe, vem vovó, Papai Noel chegou!”
Ao sentir a alegria de Valdirene e vê o sorriso de vovó, carregando os doces e os salgadinhos, não tive dúvidas do que motiva o jovem velhinho de Logradouro. A atitude simples do jovem planta a alegria e a esperança nos corações dos pequenos e reacende os mesmos sentimentos nos adultos.
“Vejam só o que Papai Noel me deu!” dizia vovó. O disfarce funcionou bem. Até ela reconheceu Papai Noel sem barba, magrinho e sem trenó.
Ahhh! Vocês querem saber o nome do jovem velhinho de Logradouro? Hum! Ficarei devendo essa informação. Um dia, a aspirante a repórter conseguirá a entrevista com o bom velhinho e aí vocês saberão a verdadeira identidade de Papai Noel.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Encontro de sorrisos


A menina de cachinhos corre pela casa, deixa o irmão mais novo dormindo na rede e segue ao encontro dos sorrisos. A rua a espera.
Pega-pega, esconde-esconde, rouba bandeira, brincadeiras de roda... As tardes repletas de alegria.

A cena se repete em minha mente, ao me aproximar da casa onde cresci. A janelinha, onde meus amigos colocavam o rosto, hoje está lacrada. A fechadura deu lugar a uma corrente unida por um cadeado. As paredes perderam a cor. A cena é de abandono.
A rua não é mais a mesma. As pessoas também não. Meus amigos seguiram pelo mundo. Assim como eu.
O pequeno lugar que me viu nascer, hoje cresce à medida que os moradores se vão. Cada espaço de terra dá lugar a uma nova casa. Antigamente, todas iguais, diferenciadas apenas pela cor. Agora, algumas já se destacam pela arquitetura. Parte delas permanece fechada por todo o dia, como se não houvesse vida lá dentro. As ruas estão vazias. A noite cai, a escuridão ganha força e os rostos se escondem. A impressão é de um crescimento físico, não humano.
A tecnologia também chegou aqui. Celulares, internet, câmeras digitais... Quando eu era criança, me deslumbrava em frente ao aparelho de TV, 14 polegadas, preto e branco, mas que ganhava uma tela colorida para transformar as imagens. Era fantástico! Fotografia era registrada em câmera analógica, 24 poses.
A comunicação com o mundo era feita por correspondência. Demorava-se meses para que a resposta chegasse.
Hoje, tudo é muito instantâneo. Carta não se usa mais. A novidade é scrap no orkut.
O relógio do local parece contar os segundo lentamente. Na velocidade capaz de nos fazer notar a cor do céu, a beleza do entardecer e a simplicidade do amanhecer.

(...)

A menina de cachinhos ao vento, ganhava as ruas até a escola. Quase sempre na companhia de si mesma. Com o tempo, perdeu o hábito de está só.
Sentava pelas calçadas, arrancava frutinhas das árvores, cantarolava as cantigas de roda, olhava os desenhos que se formavam no céu, moldados pelas nuvens.
A menina cresceu. Agora olha para o cadeado preso a porta que costumava está sempre aberta. Lembra com saudades. Sorri. O tempo transforma lugares, coisas e pessoas. Mas o tempo não mata as belas e doces lembranças.
Ao dar as costas para a casa vazia. A cena morre. A menina de cachinhos segue pela rua ao encontro dos sorrisos.

Varal

Palavras regadas ao sabor do vento

O vento forte conduz o movimento dos tecidos. De longe, os pequenos olhos atentos observam o movimento.
“Como é bonito um varal cheio de roupas”. Assim minha vó encerra nossa conversa.
Estávamos na lavanderia nos fundos da casa. De um lado, o fogo de lenha já finalizava o seu trabalho diário. As chamas davam lugar a brasas e fumaça.
Eu lia no olhar da vovó a trajetória de sua vida. Uma vida de luta, simplicidade e fidelidade. Vovó está prestes a comemorar 83 anos. Ela preenche com detalhes a sua história e eu mergulho em suas palavras imaginando cada cena.
Em 14 de fevereiro de 1928, nascia Josefa Luzia da Conceição, na região de São Bento do Trairi, Rio Grande do Norte. Filha de pequenos agricultores, vovó dividia as tarefas de casa com os irmãos.
Aos nove anos, viu o pai sair de casa, carregando rolos de fumos que pegou com os cunhados, e na boca, a promessa de retorno para a quarta-feira.
“Papai chega hoje! Papai chega hoje!”
A quarta-feira nunca chegou e a família teve que seguir sem o chefe.
Antes de deixar as terras do Rio Grande do Norte e partir para a Paraíba, minha vó ainda ganhou um casal de irmãos gêmeos, fruto de um relacionamento rápido da mãe.
A família foi conduzida por amigos até o sítio Lagoa Salgada, próximo a Cacimba de Dentro (PB).
A jornada não foi fácil. Quatro dias caminhando acompanhados por um burrinho. O alimento dos viajantes, rapadura e bolacha. A cama, as calçadas das cidades que cortavam. Eram agora apenas cinco filhos dos sete nascidos. Um morrera ainda pequeno e um dos gêmeos fora adotado por outra família.
“Os olhos ardiam, tinha dificuldade para enxergar. Sinto a poeira em meu rosto como se tudo estivesse acontecendo agora”, conta vovó com o olhar perdido entre as lembranças.
A vida recomeçara em Lagoa Salgada. A simplicidade acompanhou os viajantes de um estado para o outro. E lá vovó conheceu vovô ainda quando eram crianças.
Aos 17 anos, ela mudou-se para a cidade de Campina Grande (PB), dedicando-se aos afazeres de empregada doméstica. Um ano e meio de satisfação misturada à luta e humilhação. Vovó resolveu deixar o trabalho e voltar para o sítio. A patroa perturbada, por vezes, tentou suicídio, até que conseguiu se incendiar tempos depois da saída da vovó.
Com 18 anos, ela casou-se com vovô, Manoel Gonçalves Ramos. Uma união que durou 57 anos, encerrada pela morte dele. 17 filhos vieram ao mundo, nove sobreviveram.
A vida conduzia cada irmão de vovó por um caminho. A morte de um aproximou outro.
O irmão mais velho, Miguel, resolveu, anos antes, procurar pela irmã adotada ainda criança. Encontrou-a no Rio Grande do Norte, após longos anos de separação. Vovó, porém, só reencontrou a irmã, no sepultamento do irmão Miguel. Uma enfermidade o vitimou rapidamente. Outros irmãos já se foram, levados pela vida ou pela morte. O pai nunca retornou.
Por muitos anos, meus avós moraram no Sítio em Lagoa Salgada. Depois mudaram para Logradouro, Município de Cacimba de Dentro, onde hoje escuto as histórias de vovó.
Certamente a trajetória dela ainda me embalará por muitas tardes. Muitas histórias ainda instigarão minha imaginação. Por hoje, carrego a lição de simplicidade e determinação. Em meus olhos, a cena dos varais.
“Como é bonito o varal cheio de roupas”. Como é bonito o movimento da vida.
Colocadas ali com um propósito, cada peça ganha um movimento conforme vontade do vento. Por vezes se encontram. Por vezes se afastam. A naturalidade e a simplicidade transmitem a beleza. Somos peças únicas conduzidas pelo sábio vento nos varais da vida.

sábado, 6 de novembro de 2010

E a feira de novo

Devo ter sido um legume ou verdura em vidas passadas. Sempre acabo guardando uma história carinhosa vivida em feiras, dessa vez na divisa Santos – São Vicente

“Você deve ter nascido debaixo de uma barraca de feira, dizia meu pai.” Assim, dona Rose resumia, o amor pela profissão. Vicentina e feirante há quatro anos, Rosângela Tavares, conhecida por todos como Rose, levanta às quatro da manhã, todos os dias para montar a sua barraca de queijos e doces nas feiras livres da cidade de São Vicente.
Com um largo sorriso, ela me conta como começou na profissão. “Eu trabalhava nas lotações aqui da cidade e meu filho tinha a barraca na feira. Ele tinha dezoito anos quando começou. Dez anos depois resolveu parar. Meu coração de feirante bateu mais forte e resolvi assumir o posto”.
E eu não contei ainda o que eu estava fazendo na feira e como encontrei dona Rose. Pois bem. Era plantão de sábado, na rádio. Fui à feira procurar por algo interessante para contar para os ouvintes. Chuvinha fina molhava o papel onde eu anotava detalhes do que ia falar. Pensei em entrevistar o moço que vendia grãos de todos os tipos possíveis – lembrei-me até do dia em que me perdi na feira e do meu medo enorme de ir morar para sempre na casa dos temperos – enquanto eu pensava em como abordaria o moço, dona Rose se aproximou de cantinho. Todo mundo da minha barraca está curioso pra saber o que você tanto anota ai...” Ué, pensei que eu é que fosse a jornalista e que carregava a curiosidade inerente à profissão!... Ahhh! Todo mundo que ela falava, na verdade, eram três pessoas que trabalhavam com ela...
Expliquei o que eu estava fazendo e ela logo se prontificou a me dar entrevista. Minutos depois, estávamos NO AR!
Fiquei feliz. Gosto de falar com pessoas simples e alegres. Gente que levanta cedo todos os dias, com o céu claro ou com chuva fina, trabalha com afinco e nunca tira do rosto, o sorriso acolhedor. Ser brasileiro é ser assim: batalhador e humilde.
Deixei a barraca em meio à chuva – agora intensa – e com um gostinho de rapadura na boca, mesmo sem experimentar nenhum pedaço.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A casa dos temperos


A garotinha caminhava por entre os desconhecidos, as lágrimas escorriam pelo rosto e o coração batia acelerado. De um lado, gente. Do outro, mais gente. E quem ela procurava ansiosamente, não aparecia. Vendo o desespero da pequena de 6 anos, a vendedora da barraca de temperos e condimentos resolveu ajudá-la.
“O que foi, menina? Cadê a sua mãe?”
“Perdi ela. E agora, moça? Ela tava aqui na minha frente, moça, eu até conseguia ver os chinelos dela, mas de repente, vi mais ela não. Sumiu”.
Os soluços se misturavam ao barulho dos feirantes. De um lado banana, do outro, laranjas. Frutas, verduras e legumes por toda parte. A feira de Araruna estava lotada e ficava a mais de 18 km da casa da menina.
“Calma, a gente encontra ela. Senta ai e daqui a  pouco vamos procurar. Se não acharmos eu te levo para casa e depois a gente dá um jeito de localizar a sua família”.
As lágrimas viraram uma cachoeira de desconsolo. O cheiro dos temperos só deixava a menina ainda mais triste. “E agora, a moça vai me levar pra morar com os cumins* e com os colorau**. Eu não quero morar com eles não, se ainda fosse tomate...” pensava.
“Não, moça, eu não quero ir pra sua casa não. Ela estava tão pertinho de mim, eu via, moça, o chinelo dela, e quando eu olhei, não vi mais .... buáaaaaaaaaa”.
A garotinha chorava compulsivamente e temia nunca mais encontrar a mãe e ter que morar com os temperos para sempre.
“Você mora adonde, menina? Você sabe como chegar ao ônibus que você veio?”
“Eu sei sim, moça, você me leva lá?”
A calçada parecia que não tinha fim. De mãos dadas seguiam. O short azul marinho e a camiseta branca compunham o traje da garotinha. Ao dobrar a última esquina, seus cachos castanhos foram vistos pela mãe. Maria aliviada correu e abraçou a filha.
16 anos se passaram e a garotinha de cachos castanhos não esquece do dia em que perdeu a mãe na feira e quase foi morar com os temperos.


*cominho: as sementes pisadas com gosto levemente picante e amargo. Usado para temperar carnes.
**colorau ou colorífico: condimento de cor avermelhada, usado nos alimentos para realçar as cores, alterar a textura e modificar a cor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nos avessos da vida

“De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir”. Pe Fábio de Melo – Sobre ganhar e perder

A voz suave. A letra repleta de jogos de palavras que só os corações atentos conseguem decifrar. Ele estava no palco, nas mãos tinha o celular, onde conferia a letra da música que ainda não tinha decorado. A cena aconteceu em 03 de maio de 2010, no Teatro Coliseu, em Santos – SP. Era a Conferência entre Amigos e lançamento do livro Cartas entre Amigos – sobre ganhar e perder.
Foi a primeira vez que escutei esta música do padre Fábio de Melo, escrita a partir do tema do livro.





“Quem não se doa na vida não pode ser grande
Demorei pra saber, demorei pra entender o porquê
A regra que move os motivos de nossa vontade
Nem sempre nos mostra que o menos às vezes é mais
Nem sempre aquele que ganha recebe a vitória
Nem sempre aquele que perde deixou de vencer
A luz que hoje brilha no pódio, no fundo tem sombras
E a sombra de quem hoje perde já pode ser luz
Quanto peso já levei comigo, porque não me deixei convencer
Que o mistério profundo da vida não se encerra em ganhar ou perder
Mas aquilo que fica de tudo
E o que faz da sobra afinal
Se transformo o fracasso em vitória
Ou se faço o bem ser mal
Por tanto tempo em pensei que a vida fosse um jogo pra ganhar
Voando alto, acertando alvo, a pressa me levar
Mas o avesso de tanta vitória
Há uma derrota que eu não quero ver
Tantas pessoas eu perdi na vida porque não soube escolher
Há sempre um jeito de ganhar perdendo
Ou de perder para ganhar
A escolha certa vai determinar o que vai nos restar
De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir.”

Aventuro-me, hoje,  a tentar compreender os avessos e neles encontrar razãos para continuar. Aventuro-me a descubrir os porquês, a enxergar o que está além dos meus olhos.
As obras do jovem padre me fascinam. Poemas, músicas e livros me lembram pessoas, momentos e lugares. Busco nelas aquilo que sei que vou encontrar: conforto, sabedoria, sensibilidade.
Lembro o primeiro poema que ouvi. Estava no nordeste, passando férias na casa da minha vó. Há alguns dias não via meu pai que havia ficado em São Paulo. Escutei pela primeira vez o CD Vida e comecei justamente pelo poema “Deus é pai”. Lágrimas molhavam o rosto e a imagem em mente do meu pai saciava minha saudade. Não consegui largar o CD.
Em outra ocasião, assistindo a um vídeo me deparei com o título “Quem me roubou de mim”. È até agora, o livro que mais me marcou. É um convite a análise das relações humanas e de como elas podem promover o sequestro do eu. Impressionante o uso de jogos de palavras e da profundidade do texto. A obra me levou a uma série de questionamentos que espero responder a mim mesma algum dia.
Não posso deixar de citar a música “Contrários”. Lá estão de novo os avessos da vida. O ganhar, o perder. Acredito hoje, que apesar de aparentemente ter perdido, eu não deixei de ganhar. Talvez o meu ganhar esteja sendo preparado a partir da minha perda. Sinto, agora, que permance vivo, aquilo que outrora morrera.

domingo, 19 de setembro de 2010

Homem completo e perfeito

Começa a minha saga em busca do amor. Para ajudar na jornada conto com a minha criativa e maluca irmã mais nova. Nada como alguém que está no ápice da adolescência para indicar o melhor caminho para os braços do príncipe encantado (eu ainda acredito que ele existe!)
Na verdade, não estou à procura do amor. Tenho certeza que ele é que vai me encontrar na hora certa. Mas minha irmãzinha decidiu que vai acelerar o processo.
“Você precisa de um namorado...”
“Tá certo. Mas tem que ter algumas qualidades que eu não dispenso. Chega de homem bobo. Anota ai e confere na tua lista de contatos se tem alguém que preenche os requisitos”.
Ela escutou atentamente e ficou indignada.
“Vai casar nunca! Desse jeito, não dá”
A indignação tomou conta dela só porque eu disse que queria um homem honesto, trabalhador, fiel e inteligente. É muito?
“Ou você escolhe um que tenha pelo menos uma dessas qualidades, o que nos tempos de hoje já é difícil – filosofou – ou você namora quatro homens diferentes”
Eu não quero um namorado inteligente, mas que vai me trair, mentir e ainda por cima vai viver às minhas custas (eu já vivo à custa dos meus pais). Também não quero quatro namorados. O que aconteceu com o príncipe encantado? Eu já abri mão do cavalo branco e aceitei a possibilidade de ele vim montado numa magrela véia....
Minha irmã casamenteira começou a visitar a memória e pensar em um jeito de me ajudar.
“Um homem inteligente, talvez você encontre na faculdade... trabalhador, talvez no emprego do pai... honesto... fiel... cara, não dá pra ser tudo isso em um só!” Ela já começava a se desesperar. “Minhas amigas encontraram namorado no cinema, porque você não vai lá?”
Eu sempre fui ao cinema pensando em assistir ao filme, mas já que ela fez uma pesquisa profunda fundamentada nos dados do IBGE (Instituto Básico das Garotas da Escola), eu devo levar em conta a ideia. Será que se eu pedir pra eles acenderem a luz na sala fica mais fácil encontrar o amor?
Minutos se passaram e a irmã casamenteira não desistia do seu propósito de vida: Casar-me (tô começando a achar que ela quer se livrar de mim e ter o quarto só para ela).
Fui dormir e ela saiu para um encontro com as amigas. Na volta, chegou com sorriso amarelo estampado no rosto.
“Conversei com as meninas e devo dizer que você foi a piada da noite!”
Não me bastava mais nada. Além de encalhada agora sou motivo de gargalhadas nas rodinhas de amigos.
“Elas já me pediram pra te informar que se você encontrar esse homem completo, por favor, avisa pra elas onde é a fonte, porque tá todo mundo procurando. E o pior: a mãe de uma delas disse que procura até hoje, não encontrou e ainda casou com o errado”.
Acho melhor desistir. Já que o amor vai me encontrar, numa hora dessas, em algum lugar e por algum motivo, acho melhor esperar. Mas lá vem ela com a solução.
“Eu já sei onde você vai encontrar o homem que você procura. A mãe da minha amiga vai fazer uma festa e advinha? Só vai ter peixe! Agora você acha um namorado...”
“Acho, é... como?”
“Simples. O que é que sempre tem em lugar com peixe???? Heim, heim? Tem gato. Você vai encontrar o seu gato. Ele vai ta lá à procura de peixe...”
Ôoooo piada de mau gosto, não?!

Esse clipe da música segredos - Frejat - tem tudo haver com esse assunto

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Música... som... coração

"Forma de arte que combina sons e silêncio". Não há melhor definição para o termo. Difícil é descrever os sentimentos despertados pela música.
Amanhã de hoje foi marcada por sons que foram nos canais mais profundos da minha memória e resgataram lembranças... saudades.... lágrimas.



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Amigas, irmãs...

♪ Amigos pra sempre, dois amigos que nasceram pela fé...Amigos, pra sempre, para sempre amigos sim, se Deus quiser...♪

O abraço. Nele, as saudades eram saciadas, o carinho era transmitido e a amizade fortalecida. Éramos quatro. Quatro pessoas que se reencontravam. Quatro pessoas que sentiam no sorriso e no tom da voz, a beleza que é ter... que é ser amigo.

Os dias ao lado dessas três pessoas maravilhosas – Cilene, Priscila e Patrícia – foram mais alegres, mais intensos e mais bonitos. As risadas foram mais gostosas e as palavras mais doces. Desde o balançar dos cabelos com o vento alucinante da manhã até as delícias preparadas pela Paty, na cozinha da minha casa. Mamãe adotou novas filhas, eu ganhei grandes irmãs.
Ela se penteia e se maqueia, numa tentativa insana de se tornar feia, mas só de brincadeirinha....
Ela sorri, me olha... quer confessar no olhar, os segredos da alma. Como se pudesse, no silêncio, esclarecer as dúvidas que o coração guardava.
Ela cozinha, ela fotografa e fotografa e.... fotografa mais ainda...de todos os lados, de todos os ângulos.

Como é bom ter amigos assim. Amigos que fazem de pequenos momentos, lembranças eternizadas. Fazem das lágrimas, o alimento para o reencontro.

O ônibus da cor do céu logo vai partir. As lágrimas escorrem pelo rosto e as mãos tentam, inutilmente, se tocar através do vidro. O barulho do motor é o aviso. O olhar acompanha o grande ônibus da cor do céu se afastando e vai partindo... coração aperta, lágrimas rolam, mas....muito mais forte fica a certeza de logo reencontrá-las e sentir o mesmo abraço,  aquele abraço.

♪ Amigos pra sempre....
Eu amo vocês, minhas queridas amigas. Cilene, Priscila, Patrícia.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sertão de vidas simples


A velhinha espera no portão de grades vazadas que enfeita e protege quase todas as casas do lugar. Logo o carro vai romper o horizonte e vai ao encontro do sorriso da velhinha. Ela carrega as características típicas daquele povo: simplicidade aliada à determinação. As características de um povo que tem a sombra do chapéu como escudo do sol ardente e que encontra na terra a esperança de dias melhores.

As casinhas, quase todas geminadas, têm fachadas iguais. Algumas têm portas com janelinhas no meio, de onde rostos envergonhados aparecem, de vez em quando, para olhar quem passa. Estreitas ruas, movimento discreto. Árvores iguais enfeitam as calçadas e oferecem a sombra para os que fogem do sol quente do sertão.

Sob a árvore, ele descansa. Poeira na cara, do vento forte que refresca o calor e balança os galhos. A conversa com o compadi na calçada tem que terminar, pois o trabalho no roçado* o espera. Lá ele vai encontrar a plantação de milho e feijão e o gado para cuidar. Ele deixou a mulher a estender as roupas na faxina**, mais tarde, ela vai levar a marmita para que ele possa almoçar.

Aqueles que deixaram a terrinha em busca de trabalho nas cidades grandes lembram com saudades das brincadeiras nas simples e seguras ruas. O nome parece de pouca criatividade: Logradouro.

O município pertence à cidade de Cacimba de Dentro, no estado da Paraíba. Outro nome curioso: Cacimba de Dentro.

A denominação nasceu por causa da existência de duas cacimbas de água potável na propriedade de um cobrador de impostos. Uma das cacimbas, a nova, ficava mais para dentro da propriedade e assim aquelas terras foram batizadas. Quando deu origem ao povoado o nome permaneceu.

Cidade do jornalista, poeta e membro da Academia Paraibana de Letras, Severino Peryllo Doliveira, Cacimba de Dentro não vive no imaginário de tanta gente, mas representa o refúgio de muitos cacimbenses que deixaram a cidade e que só retornam para breve visita.

Três horas rompendo as nuvens e o coração pousa na capital do estado, João Pessoa. Vai seguir por terra 170 km até encontrar os braços da vovó. E lá estará a velhinha de olhos brilhantes e sorriso largo esperando no portão de grades vazadas.

*Terreno onde se roçou ou queimou o mato, e que está pronto para a cultura, roça.
**Feixe de ramos, ou de paus curtos, onde as mulheres penduram roupas para secar.