terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nos avessos da vida

“De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir”. Pe Fábio de Melo – Sobre ganhar e perder

A voz suave. A letra repleta de jogos de palavras que só os corações atentos conseguem decifrar. Ele estava no palco, nas mãos tinha o celular, onde conferia a letra da música que ainda não tinha decorado. A cena aconteceu em 03 de maio de 2010, no Teatro Coliseu, em Santos – SP. Era a Conferência entre Amigos e lançamento do livro Cartas entre Amigos – sobre ganhar e perder.
Foi a primeira vez que escutei esta música do padre Fábio de Melo, escrita a partir do tema do livro.





“Quem não se doa na vida não pode ser grande
Demorei pra saber, demorei pra entender o porquê
A regra que move os motivos de nossa vontade
Nem sempre nos mostra que o menos às vezes é mais
Nem sempre aquele que ganha recebe a vitória
Nem sempre aquele que perde deixou de vencer
A luz que hoje brilha no pódio, no fundo tem sombras
E a sombra de quem hoje perde já pode ser luz
Quanto peso já levei comigo, porque não me deixei convencer
Que o mistério profundo da vida não se encerra em ganhar ou perder
Mas aquilo que fica de tudo
E o que faz da sobra afinal
Se transformo o fracasso em vitória
Ou se faço o bem ser mal
Por tanto tempo em pensei que a vida fosse um jogo pra ganhar
Voando alto, acertando alvo, a pressa me levar
Mas o avesso de tanta vitória
Há uma derrota que eu não quero ver
Tantas pessoas eu perdi na vida porque não soube escolher
Há sempre um jeito de ganhar perdendo
Ou de perder para ganhar
A escolha certa vai determinar o que vai nos restar
De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir.”

Aventuro-me, hoje,  a tentar compreender os avessos e neles encontrar razãos para continuar. Aventuro-me a descubrir os porquês, a enxergar o que está além dos meus olhos.
As obras do jovem padre me fascinam. Poemas, músicas e livros me lembram pessoas, momentos e lugares. Busco nelas aquilo que sei que vou encontrar: conforto, sabedoria, sensibilidade.
Lembro o primeiro poema que ouvi. Estava no nordeste, passando férias na casa da minha vó. Há alguns dias não via meu pai que havia ficado em São Paulo. Escutei pela primeira vez o CD Vida e comecei justamente pelo poema “Deus é pai”. Lágrimas molhavam o rosto e a imagem em mente do meu pai saciava minha saudade. Não consegui largar o CD.
Em outra ocasião, assistindo a um vídeo me deparei com o título “Quem me roubou de mim”. È até agora, o livro que mais me marcou. É um convite a análise das relações humanas e de como elas podem promover o sequestro do eu. Impressionante o uso de jogos de palavras e da profundidade do texto. A obra me levou a uma série de questionamentos que espero responder a mim mesma algum dia.
Não posso deixar de citar a música “Contrários”. Lá estão de novo os avessos da vida. O ganhar, o perder. Acredito hoje, que apesar de aparentemente ter perdido, eu não deixei de ganhar. Talvez o meu ganhar esteja sendo preparado a partir da minha perda. Sinto, agora, que permance vivo, aquilo que outrora morrera.

domingo, 19 de setembro de 2010

Homem completo e perfeito

Começa a minha saga em busca do amor. Para ajudar na jornada conto com a minha criativa e maluca irmã mais nova. Nada como alguém que está no ápice da adolescência para indicar o melhor caminho para os braços do príncipe encantado (eu ainda acredito que ele existe!)
Na verdade, não estou à procura do amor. Tenho certeza que ele é que vai me encontrar na hora certa. Mas minha irmãzinha decidiu que vai acelerar o processo.
“Você precisa de um namorado...”
“Tá certo. Mas tem que ter algumas qualidades que eu não dispenso. Chega de homem bobo. Anota ai e confere na tua lista de contatos se tem alguém que preenche os requisitos”.
Ela escutou atentamente e ficou indignada.
“Vai casar nunca! Desse jeito, não dá”
A indignação tomou conta dela só porque eu disse que queria um homem honesto, trabalhador, fiel e inteligente. É muito?
“Ou você escolhe um que tenha pelo menos uma dessas qualidades, o que nos tempos de hoje já é difícil – filosofou – ou você namora quatro homens diferentes”
Eu não quero um namorado inteligente, mas que vai me trair, mentir e ainda por cima vai viver às minhas custas (eu já vivo à custa dos meus pais). Também não quero quatro namorados. O que aconteceu com o príncipe encantado? Eu já abri mão do cavalo branco e aceitei a possibilidade de ele vim montado numa magrela véia....
Minha irmã casamenteira começou a visitar a memória e pensar em um jeito de me ajudar.
“Um homem inteligente, talvez você encontre na faculdade... trabalhador, talvez no emprego do pai... honesto... fiel... cara, não dá pra ser tudo isso em um só!” Ela já começava a se desesperar. “Minhas amigas encontraram namorado no cinema, porque você não vai lá?”
Eu sempre fui ao cinema pensando em assistir ao filme, mas já que ela fez uma pesquisa profunda fundamentada nos dados do IBGE (Instituto Básico das Garotas da Escola), eu devo levar em conta a ideia. Será que se eu pedir pra eles acenderem a luz na sala fica mais fácil encontrar o amor?
Minutos se passaram e a irmã casamenteira não desistia do seu propósito de vida: Casar-me (tô começando a achar que ela quer se livrar de mim e ter o quarto só para ela).
Fui dormir e ela saiu para um encontro com as amigas. Na volta, chegou com sorriso amarelo estampado no rosto.
“Conversei com as meninas e devo dizer que você foi a piada da noite!”
Não me bastava mais nada. Além de encalhada agora sou motivo de gargalhadas nas rodinhas de amigos.
“Elas já me pediram pra te informar que se você encontrar esse homem completo, por favor, avisa pra elas onde é a fonte, porque tá todo mundo procurando. E o pior: a mãe de uma delas disse que procura até hoje, não encontrou e ainda casou com o errado”.
Acho melhor desistir. Já que o amor vai me encontrar, numa hora dessas, em algum lugar e por algum motivo, acho melhor esperar. Mas lá vem ela com a solução.
“Eu já sei onde você vai encontrar o homem que você procura. A mãe da minha amiga vai fazer uma festa e advinha? Só vai ter peixe! Agora você acha um namorado...”
“Acho, é... como?”
“Simples. O que é que sempre tem em lugar com peixe???? Heim, heim? Tem gato. Você vai encontrar o seu gato. Ele vai ta lá à procura de peixe...”
Ôoooo piada de mau gosto, não?!

Esse clipe da música segredos - Frejat - tem tudo haver com esse assunto

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Música... som... coração

"Forma de arte que combina sons e silêncio". Não há melhor definição para o termo. Difícil é descrever os sentimentos despertados pela música.
Amanhã de hoje foi marcada por sons que foram nos canais mais profundos da minha memória e resgataram lembranças... saudades.... lágrimas.



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Amigas, irmãs...

♪ Amigos pra sempre, dois amigos que nasceram pela fé...Amigos, pra sempre, para sempre amigos sim, se Deus quiser...♪

O abraço. Nele, as saudades eram saciadas, o carinho era transmitido e a amizade fortalecida. Éramos quatro. Quatro pessoas que se reencontravam. Quatro pessoas que sentiam no sorriso e no tom da voz, a beleza que é ter... que é ser amigo.

Os dias ao lado dessas três pessoas maravilhosas – Cilene, Priscila e Patrícia – foram mais alegres, mais intensos e mais bonitos. As risadas foram mais gostosas e as palavras mais doces. Desde o balançar dos cabelos com o vento alucinante da manhã até as delícias preparadas pela Paty, na cozinha da minha casa. Mamãe adotou novas filhas, eu ganhei grandes irmãs.
Ela se penteia e se maqueia, numa tentativa insana de se tornar feia, mas só de brincadeirinha....
Ela sorri, me olha... quer confessar no olhar, os segredos da alma. Como se pudesse, no silêncio, esclarecer as dúvidas que o coração guardava.
Ela cozinha, ela fotografa e fotografa e.... fotografa mais ainda...de todos os lados, de todos os ângulos.

Como é bom ter amigos assim. Amigos que fazem de pequenos momentos, lembranças eternizadas. Fazem das lágrimas, o alimento para o reencontro.

O ônibus da cor do céu logo vai partir. As lágrimas escorrem pelo rosto e as mãos tentam, inutilmente, se tocar através do vidro. O barulho do motor é o aviso. O olhar acompanha o grande ônibus da cor do céu se afastando e vai partindo... coração aperta, lágrimas rolam, mas....muito mais forte fica a certeza de logo reencontrá-las e sentir o mesmo abraço,  aquele abraço.

♪ Amigos pra sempre....
Eu amo vocês, minhas queridas amigas. Cilene, Priscila, Patrícia.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sertão de vidas simples


A velhinha espera no portão de grades vazadas que enfeita e protege quase todas as casas do lugar. Logo o carro vai romper o horizonte e vai ao encontro do sorriso da velhinha. Ela carrega as características típicas daquele povo: simplicidade aliada à determinação. As características de um povo que tem a sombra do chapéu como escudo do sol ardente e que encontra na terra a esperança de dias melhores.

As casinhas, quase todas geminadas, têm fachadas iguais. Algumas têm portas com janelinhas no meio, de onde rostos envergonhados aparecem, de vez em quando, para olhar quem passa. Estreitas ruas, movimento discreto. Árvores iguais enfeitam as calçadas e oferecem a sombra para os que fogem do sol quente do sertão.

Sob a árvore, ele descansa. Poeira na cara, do vento forte que refresca o calor e balança os galhos. A conversa com o compadi na calçada tem que terminar, pois o trabalho no roçado* o espera. Lá ele vai encontrar a plantação de milho e feijão e o gado para cuidar. Ele deixou a mulher a estender as roupas na faxina**, mais tarde, ela vai levar a marmita para que ele possa almoçar.

Aqueles que deixaram a terrinha em busca de trabalho nas cidades grandes lembram com saudades das brincadeiras nas simples e seguras ruas. O nome parece de pouca criatividade: Logradouro.

O município pertence à cidade de Cacimba de Dentro, no estado da Paraíba. Outro nome curioso: Cacimba de Dentro.

A denominação nasceu por causa da existência de duas cacimbas de água potável na propriedade de um cobrador de impostos. Uma das cacimbas, a nova, ficava mais para dentro da propriedade e assim aquelas terras foram batizadas. Quando deu origem ao povoado o nome permaneceu.

Cidade do jornalista, poeta e membro da Academia Paraibana de Letras, Severino Peryllo Doliveira, Cacimba de Dentro não vive no imaginário de tanta gente, mas representa o refúgio de muitos cacimbenses que deixaram a cidade e que só retornam para breve visita.

Três horas rompendo as nuvens e o coração pousa na capital do estado, João Pessoa. Vai seguir por terra 170 km até encontrar os braços da vovó. E lá estará a velhinha de olhos brilhantes e sorriso largo esperando no portão de grades vazadas.

*Terreno onde se roçou ou queimou o mato, e que está pronto para a cultura, roça.
**Feixe de ramos, ou de paus curtos, onde as mulheres penduram roupas para secar.