“De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir”. Pe Fábio de Melo – Sobre ganhar e perder
A voz suave. A letra repleta de jogos de palavras que só os corações atentos conseguem decifrar. Ele estava no palco, nas mãos tinha o celular, onde conferia a letra da música que ainda não tinha decorado. A cena aconteceu em 03 de maio de 2010, no Teatro Coliseu, em Santos – SP. Era a Conferência entre Amigos e lançamento do livro Cartas entre Amigos – sobre ganhar e perder.
Foi a primeira vez que escutei esta música do padre Fábio de Melo, escrita a partir do tema do livro.
“Quem não se doa na vida não pode ser grande
Demorei pra saber, demorei pra entender o porquê
A regra que move os motivos de nossa vontade
Nem sempre nos mostra que o menos às vezes é mais
Nem sempre aquele que ganha recebe a vitória
Nem sempre aquele que perde deixou de vencer
A luz que hoje brilha no pódio, no fundo tem sombras
E a sombra de quem hoje perde já pode ser luz
Quanto peso já levei comigo, porque não me deixei convencer
Que o mistério profundo da vida não se encerra em ganhar ou perder
Mas aquilo que fica de tudo
E o que faz da sobra afinal
Se transformo o fracasso em vitória
Ou se faço o bem ser mal
Por tanto tempo em pensei que a vida fosse um jogo pra ganhar
Voando alto, acertando alvo, a pressa me levar
Mas o avesso de tanta vitória
Há uma derrota que eu não quero ver
Tantas pessoas eu perdi na vida porque não soube escolher
Há sempre um jeito de ganhar perdendo
Ou de perder para ganhar
A escolha certa vai determinar o que vai nos restar
De que vale alguém ganhar o mundo. Ir além e tanto possuir, se depois não tem alguém na vida com quem possa dividir.”
Aventuro-me, hoje, a tentar compreender os avessos e neles encontrar razãos para continuar. Aventuro-me a descubrir os porquês, a enxergar o que está além dos meus olhos.
As obras do jovem padre me fascinam. Poemas, músicas e livros me lembram pessoas, momentos e lugares. Busco nelas aquilo que sei que vou encontrar: conforto, sabedoria, sensibilidade.
Lembro o primeiro poema que ouvi. Estava no nordeste, passando férias na casa da minha vó. Há alguns dias não via meu pai que havia ficado em São Paulo. Escutei pela primeira vez o CD Vida e comecei justamente pelo poema “Deus é pai”. Lágrimas molhavam o rosto e a imagem em mente do meu pai saciava minha saudade. Não consegui largar o CD.
Em outra ocasião, assistindo a um vídeo me deparei com o título “Quem me roubou de mim”. È até agora, o livro que mais me marcou. É um convite a análise das relações humanas e de como elas podem promover o sequestro do eu. Impressionante o uso de jogos de palavras e da profundidade do texto. A obra me levou a uma série de questionamentos que espero responder a mim mesma algum dia.
Não posso deixar de citar a música “Contrários”. Lá estão de novo os avessos da vida. O ganhar, o perder. Acredito hoje, que apesar de aparentemente ter perdido, eu não deixei de ganhar. Talvez o meu ganhar esteja sendo preparado a partir da minha perda. Sinto, agora, que permance vivo, aquilo que outrora morrera.