domingo, 29 de julho de 2012

Em frente à urna, a decisão é sua

A cidade de Cacimba de Dentro, na Paraíba, ferve em época de eleição. Pessoas vestem a camisa e chegam a fazer inimigos por defender um político ou outro. Já ouvi histórias de pessoas que romperam amizades antigas por causa de encrenca política.
Desde que deixei a cidade, quando tinha onze anos, nunca estive lá durante o período de eleições. Não conheço com propriedade a administração de ninguém e nem defendo a bandeira de nenhum deles. Tenho familiares e amigos lá e conheço um pouco da necessidade dos logradouros e sítios com base nas minhas visitas de férias.
A principal renda da cidade vem da agricultura, sendo assim, se não chove ou chove demais é sinal de prejuízo para todo mundo. Por essa razão é que muitos largam a vida ao lado dos familiares para buscar oportunidades em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Minha família é exemplo disso. Nasci e vivi toda minha infância em Logradouro, município de Cacimba de Dentro.  Nunca faltou comida na mesa da minha casa porque meu pai sempre nos sustentou, trabalhando anos no Rio, anos em São Paulo.
Apesar de ser criança e não compreender bem as coisas, eu vi políticos baterem na porta da minha casa e pedirem votos. Tantas promessas que eu pensava que depois das eleições, o céu seria ali.
Infelizmente, eleitores vendem seus votos em troca de promessa de emprego e, às vezes, até dinheiro. Necessidade de comprar um remédio, pagar um exame ou colocar comida em casa. Poucos reconhecem que o voto é a única arma que têm nas mãos. A única chance de defesa. Reclamam da corrupção, do descaso com a saúde, educação e com o bem do povo, mas na hora do voto, escolhem quem fez a melhor oferta de compra.
(...)

Hoje, o atual prefeito e candidato a reeleição em Cacimba de Dentro, Dr. Edmilson Gomes (PSDB) esteve na comunidade Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. A maior parte da população da comunidade é nordestina. Gomes estava em um bar bem conhecido e frequentado por muitos paraibanos. Conversei um pouco com ele. Perguntei sobre a saúde e geração de emprego. Como ele mesmo disse: eu não conheço a trajetória de vida dele. De fato, sei apenas o nome, a profissão, o partido e o tempo que ele está no governo. Eu admito que não tenho o direito de dizer que Gomes é bom ou mau prefeito. Minha opinião não importa. Não voto na cidade. Não faço uso dos serviços da prefeitura de Cacimba de Dentro. Quem deve julgar a administração dele, são os eleitores de lá.

Aqui deixo um pedacinho da minha conversa com Gomes. O momento foi registrado pela minha cunhada e amiga Cilene Pereira.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Num piscar de olhos e tudo muda


Sabe aquele desespero que a gente sente quando sonha que está caindo? Inutilmente tenta se agarrar ao nada? Alívio é acordar e perceber que o chão continua ali, não é mesmo? O entregador Acleano Barros, 27 anos, não sentiu esse alívio já que a queda no poço do elevador não aconteceu em um pesadelo.

Era início de junho e ele retornava de um apartamento no primeiro andar de um edifício no Leblon, Rio de Janeiro. Barros se despediu da cliente que ficou observando-o até a porta do elevador. Olhou para ela em sinal de despedida, abriu a porta e deu um passo com o pé direito para o nada.
“Quando eu percebi que estava caindo, tentei me agarrar a uma espécie de cabo de aço. Não consegui e senti minha perna direita acertar uma pilastra”, conta. Tentou verificar os danos enquanto gritava para a cliente: “Oh minha senhora, o elevador está quebrado e agora estou aqui embaixo no escuro”.
Enquanto a mulher gritava por socorro e corria para o telefone, o entregador viu o elevador descer. Com medo de ser esmagado, levantou o braço, tentando aparar. “Ainda bem que ele apenas encostou e subiu. Eu só pensei ‘ai, meu Deus, lá vem esse troço agora’”.
Mesmo machucado, conseguiu retirar o celular do bolso e ligou para o trabalho, uma filial de uma rede de restaurantes no Rio. O gerente que já tinha sido avisado pela cliente, seguiu para o local do acidente. Barros foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros e a caminho do hospital avaliou a situação:
“E agora? Tenho que pagar o aluguel, as contas de casa e sustentar minha esposa. O que eu vou fazer? Minha moto, alguém guarda para mim. Se ela ficar lá, vão multar e vou ter mais problemas... Ai meu Deus, alguém recolhe o dinheiro lá no buraco, tem umas moedas também... nem deu tempo de guardar, caiu tudo no poço junto comigo”. Falava sem parar.
“Rapaz, qual é o seu nome?”, perguntou o bombeiro.
“Acleano de Brito Barros”, respondeu.
“Como? Acri...”, tentou o bombeiro
“Acleano, meu senhor, com L".  Olhando para a colega de trabalho que o acompanhava pediu: "Explica para ele como se escreve meu nome, para não ficar errado lá no hospital”.
“O número do seu RG, rapaz”, pediu o bombeiro.
“Não me lembro, meu senhor. Tem uns doze números, não decorei tudo ainda. Mas o documento está aqui no meu bolso. Eu ainda não peguei porque estou aqui imobilizado. Se o senhor conseguir alcançar meu bolso de trás pode pegar...”, explicava Barros.
O entregador Acleano Barros aguardou mais de 15 dias para fazer a cirurgia no fêmur direito. Felizmente foi o único membro quebrado no acidente. Como trabalhava há cerca de um mês no estabelecimento, o cartão do plano de saúde ainda não estava pronto e restava aguardar os serviços do Sistema Único de Saúde
(...)
Quase um mês depois do acidente, o entregador nos recebe em sua quitinete na Rocinha, na Zona Sul do Rio. Moreno e franzino, ele parece um menino indefeso e abatido. Aparência que engana. Falando sem parar, vez por outra com olhos marejados, Barros nos conta tudo o que vivenciou enquanto esteve no hospital. Ele capricha nos detalhes, fazendo-nos quase enxergar as cenas.
“Chorei muito de dor. Passei maus bocados esperando ajuda lá. Mas eu sou forte. A gente escolher ser. Eu vou voltar a andar logo”, diz, enquanto nos mostra o que já consegue fazer com a perna machucada.
Com bom humor, Barros nos conta um episódio que estreitou os laços dele com a novela das onze: Gabriela.
“Um senhor que também estava hospitalizado tinha uma televisão e eu via com muita tristeza o que passava. Queria operar logo, me livrar das dores e ficar bom. Quando passava a música de abertura da novela Gabriela e minha perna doía, ficava bravo demais. Acabei associando a música à dor que sentia. Em casa, vendo a abertura de novo, a raiva voltou, mas decidi fazer as pazes com a Gabriela. Não quero guardar essa mágoa”, conta entre risos.
Depois que saímos de lá fiquei digerindo uma das frases do entregador: “Assim que sai do hospital e vi a luz do sol, deu vontade de chorar”. Não caiu durante o sonho, não teve o alívio do despertar, mas foi acariciado pela luz do sol e o consolo de que o pior já passou.